Marcos Bagno e outros importantes linguistas brasileiros chegaram a uma conclusão surpreendente: não existe voz passiva sintética no português do Brasil. Por isso se diz naturalmente "Vende-se carros", "Joga-se búzios", "Aluga-se casas para temporada" etc.
Mas peraí. Vamos dar dois passos atrás e ver o que é voz passiva sintética.
Em toda estrutura oracional, a relação entre o sujeito e o verbo é privilegiada pela gramática tradicional. Portanto é a primeira relação que se deve estabelecer numa análise sintática. Há duas restrições: o sujeito deve ter caráter substantivo e não pode vir preposicionado. E é ele quem conjuga o verbo, ou seja, o verbo concorda em número, pessoa e gênero (no caso da voz passiva) com o sujeito. Então, por exemplo, em "Vende-se carros", a interpretação tradicional manda que, em primeiro lugar, se encontre o sujeito do verbo vender. "Carros" tem caráter substantivo e não está preposicionado. É, de fato, o sujeito e, por isso, o verbo deve manter concordância com ele. Daí "Vendem-se carros". A Linguística moderna diz que isso é forçar a barra e não encontra respaldo para essa concordância no uso brasileiro da língua. Estão com a razão. Na língua coloquial, usa-se esta estrutura como voz ativa. Mas a norma-padrão ainda obriga o uso da estrutura passiva sintética (pronominal).
As dúvidas são frequentes, porque o falante entende que "carros" é objeto, e não sujeito. Daí frases como a que mencionei na postagem anterior: "Isolou-se-a". Isso é para evitar dizer "Isolou-se ela", que parece errado, mas está certo. Por quê? Porque "ela" é sujeito de "isolou-se". Outro exemplo:
Resumo da ópera, voz passiva sintética existe, sim, apesar de não usual na língua falada no Brasil. Mas a norma-padrão pede o seu uso, e em situações de formalidade deve-se seguir ela.
Opa! Se você prestou atenção na postagem anterior, vai perceber que, nessa frase que eu acabei de escrever, valia também dizer "deve-se segui-la".
Ai, agora complicou tudo...
Mas peraí. Vamos dar dois passos atrás e ver o que é voz passiva sintética.
Em toda estrutura oracional, a relação entre o sujeito e o verbo é privilegiada pela gramática tradicional. Portanto é a primeira relação que se deve estabelecer numa análise sintática. Há duas restrições: o sujeito deve ter caráter substantivo e não pode vir preposicionado. E é ele quem conjuga o verbo, ou seja, o verbo concorda em número, pessoa e gênero (no caso da voz passiva) com o sujeito. Então, por exemplo, em "Vende-se carros", a interpretação tradicional manda que, em primeiro lugar, se encontre o sujeito do verbo vender. "Carros" tem caráter substantivo e não está preposicionado. É, de fato, o sujeito e, por isso, o verbo deve manter concordância com ele. Daí "Vendem-se carros". A Linguística moderna diz que isso é forçar a barra e não encontra respaldo para essa concordância no uso brasileiro da língua. Estão com a razão. Na língua coloquial, usa-se esta estrutura como voz ativa. Mas a norma-padrão ainda obriga o uso da estrutura passiva sintética (pronominal).
As dúvidas são frequentes, porque o falante entende que "carros" é objeto, e não sujeito. Daí frases como a que mencionei na postagem anterior: "Isolou-se-a". Isso é para evitar dizer "Isolou-se ela", que parece errado, mas está certo. Por quê? Porque "ela" é sujeito de "isolou-se". Outro exemplo:
Não se veem turistas por aqui.Se eu quiser pronominalizar o termo "turistas", fica como? Não se os veem por aqui? Não. O pronome "os" é oblíquo, funciona como objeto. E "turistas", lá em cima, é sujeito paciente (semanticamente, vale como "Turistas não são vistos"). Se é sujeito, o pronome que o substitui é reto: no caso, ele. Fica assim, então:
Não se veem eles por aqui.Isso só pode ocorrer na voz passiva. Na ativa, por exemplo, "Não vejo turistas por aqui", a pronominalização de "turistas" (que é objeto; o sujeito é "eu") obriga o uso do pronome oblíquo. Fica "Não os vejo por aqui".
Resumo da ópera, voz passiva sintética existe, sim, apesar de não usual na língua falada no Brasil. Mas a norma-padrão pede o seu uso, e em situações de formalidade deve-se seguir ela.
Opa! Se você prestou atenção na postagem anterior, vai perceber que, nessa frase que eu acabei de escrever, valia também dizer "deve-se segui-la".
Ai, agora complicou tudo...