4 de dezembro de 2006

A Letra mata

A Língua é um cipoal, perigoso e imprevisível. O poder da palavra não se restringe à criação divina iniciada com o sonoro "Faça-se a luz". Temos todos acesso a esse mecanismo poderoso de... ação. Porque usar a língua corresponde a um ato, uma ação. Dizem por aí que um gesto vale mais que mil palavras. Tenho minhas dúvidas. As palavras são mais fortes que os gestos. É caso de saber usá-las, claro. Daí a importância de compreender esse instrumento (chamar a língua de instrumento é tão impreciso quanto, sei lá, chamar minhas pernas de veículo; mas deixa ficar). A palavra escrita é mais perigosa que a palavra falada? Pode ser, mas pode não ser. Normalmente, a palavra escrita tem maior valor de verdade, por assim dizer. Se está escrito, dá-se maior credibilidade. Talvez por isso ela seja mais perigosa, sim, por seu potencial enganoso. Mas a palavra falada, com sua espontaneidade, naturalidade, sua pressa, pode ser bem mais traiçoeira que a outra, relida e refeita.
O fato é que, falando ou escrevendo, é necessário conhecer a Língua, em seus mínimos detalhes, suas entrelinhas, suas etimologias. Afirmou-se que a língua é sempre contemporânea, sincrônica, como um jogo de xadrez, em que não é necessário o jogador saber o que ocorreu antes, interessa apenas a disposição atual das peças. Ora, só se for para quem fala. Quem estuda a língua precisa conhecer seu passado, o dela. Sua história. E seus disfarces. Palavrinhas que fugiram há tempos do idioma voltam disfarçadas de estrangeirismo. E tem gente querendo proibi-las, achando tratar-se de dominação cultural estrangeira. A língua é cheia de armadilhas, mesmo.
Mas ela não é difícil. Se bem tratada, faz todos os nossos desejos. Se bem.

Aqui, portanto, temos um espaço para discutir a língua e aprender sobre ela. Falaremos de questões gramaticais, usos da norma-padrão e das variedades coloquiais, sociolinguística, leitura, escrita, literatura. Dúvidas são bem-vindas. Correções e acréscimos, também.

Enjoy. Ou seja, vamo' cair dentro!

4 comentários:

Anônimo disse...

Curti muito esse trecho seu! Tenho chegado a conclusões muito parecidas, com relação às funções subjetivantes e ação-no-mundo da linguagem. Quando eu estiver com esse assunto melhor elaborado na caraminhola, a gente brinca.

Unknown disse...

Olá, Luis!
Cheguei aqui por acaso e li o editorial e alguns outros textos do teu blog.
Parabéns, cara! Tua reflexão me pareceu clara, precisa e um tanto mais madura que a do Bagno.

Luis disse...

Olá, Rapha.
Que bom que gostou dos textos. Compartilhe depois suas opiniões sobre eles, sinto falta de o pessoal que visita aqui botar a boca no trombone e tal.
Quanto ao Bagno, admiro muito o trabalho dele, mas de fato algumas ideias ficaram repetitivas. O livro mais famoso dele, Preconceito linguístico, é um bom material de divulgação dos pontos de vista, mas teoricamente ele mesmo já tem coisa bem melhor e mais moderna.
Mas entre aí e fique à vontade.

[]s!

Anônimo disse...

Aprendi muito