Bom, demorei quase cinco meses para cumprir minha promessa de falar sobre as diferenças entre o português do Brasil e o de Portugal. A justificativa está aí no título. Cujos erros, aliás vários, já servem para começar a falar das alegadas distinções. Talvez a mais óbvia delas seja justamente a das regras de colocação pronominal. Mas para que servem mesmo essas regras?
Colocação pronominal tem a ver com questões fonológicas ou de pronúncia. Sotaque, enfim. Todo o mundo já notou que os portugueses engolem as sílabas átonas da frase, certo? Portanto é uma língua que se organiza toda em função das sílabas fortes, provocando o deslocamento dos pronomes átonos para depois delas. Se um português iniciasse, por exemplo, uma frase com um pronome átono, o som seria tão apagado que poucos o perceberiam. "Me dá um cigarro", para citar Oswald de Andrade, sairia um mero "dá um cigarro", talvez com uma certa nasalização antes do "d". "O vi ontem" ficaria "vi ontem", e faltaria o objeto do verbo ver, e a coisa mais grave do mundo para um português é faltar um objeto (ponto que analisaremos em outra oportunidade). Por isso a regra básica de colocação pronominal em Portugal é usar a ênclise, ou seja, colocar o pronome após o verbo. "Dá-me um cigarro", "Vi-o ontem" etc. Lá só se usa próclise (pronome antes do verbo) se houver fatores sintáticos que, na cadeia frasal, estabeleçam um espaço sonoro para o pronome. É o que ocorre em subordinações, por exemplo, dado que as conjunções que as introduzem também são átonas. Aproximam-se duas expressões átonas e pronto: conseguiremos ouvir mais ou menos as duas, antes que outra explosiva sílaba tônica espalhe perdigotos nos nossos óculos.
No Brasil não tem nada disso. Os sons das sílabas ocorrem com mais uniformidade, e após as sílabas tônicas é que ocorre uma queda sonora que apaga frequentemente os sons finais átonos das palavras. Por isso, entre outros fatores, a próclise é mais natural entre nós e, quando se usa a ênclise, é comum substituir-se o pronome átono pelo tônico, como em "Vi ele ontem".*
Aliás, não só a colocação como também o uso mesmo dos pronomes funciona diferentemente. Se eu virar para minha mulher e disser: "Amo-a", ela certamente perguntará, com as unhas cravadas na minha jugular, "Quem?!". Menos grave para minha integridade física, mas ainda um tanto constrangedor, seria dizer "Amo-te", como lá na terra de Saramago se diz. Mas o bom negro e o bom branco da nação brasileira dizem todos os dias: ah, vai, eu te amo.
Isso não ocorre somente na língua falada. Os textos brasileiros escritos cada vez mais adotam como naturais estruturas como "Me deparei com uma questão" ou, como li outro dia num livro do Roberto Schwarz**, "Nos preocupamos em mostrar ao leitor...". Isso não quer dizer que os autores ignorem a prescrição da norma-padrão. Apenas não a consideram relevante. Como, de fato, não o é.
Por outro lado, ocorre frequentemente o fenômeno da hipercorreção, em que alguns falantes acham que estão "falando mais bonito" ao usar a ênclise, e a usam mesmo quando há fator de próclise. É conhecida de todos aquela tenebrosa placa dos elevadores, que diz "Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se neste andar." Fora todos os outros problemas que ela tem, a frase ainda usa a ênclise numa oração subordinada, o que traria naturalmente o pronome para antes do verbo. Usa-se muito também a ênclise em formas de particípio, proibida pela norma-padrão. Outro caso é justamente a frase célebre a que o título do post faz referência. "Fi-lo porque qui-lo" ignora que a conjunção "porque" inicia uma subordinação e que, dessa forma, a norma-padrão aconselharia "Fi-lo porque o quis". Mas num país em que ênclise é sinal de erudição, o vulgo bate palma.
Então, para resumir a história: no Brasil, se usa a próclise, sempre. Mesmo em início de frase (apesar de a gramática condenar este uso). Mesmo na língua escrita. Mesmo em textos formais. Mesmo de escritores cultos. Isso configura uma diferença estrutural entre as línguas do Brasil e de Portugal, uma vez que a colocação dos pronomes tem implicações no som, na ordem, na regência, no léxico, na semântica e no uso.
Me fiz claro? Então tá. Até o fim do ano eu explico o caso dos objetos.
* Nesse caso, não cabe mais falar em "ênclise", pois o termo se refere somente ao uso dos pronomes átonos, ou clíticos.
** SCHWARZ, Roberto. Um mestre na periferia do capitalismo. Livraria Duas Cidades, Editora 34. Não lembro a página em que achei a frase. Mas aproveita e lê o livro todo, vai.
Colocação pronominal tem a ver com questões fonológicas ou de pronúncia. Sotaque, enfim. Todo o mundo já notou que os portugueses engolem as sílabas átonas da frase, certo? Portanto é uma língua que se organiza toda em função das sílabas fortes, provocando o deslocamento dos pronomes átonos para depois delas. Se um português iniciasse, por exemplo, uma frase com um pronome átono, o som seria tão apagado que poucos o perceberiam. "Me dá um cigarro", para citar Oswald de Andrade, sairia um mero "dá um cigarro", talvez com uma certa nasalização antes do "d". "O vi ontem" ficaria "vi ontem", e faltaria o objeto do verbo ver, e a coisa mais grave do mundo para um português é faltar um objeto (ponto que analisaremos em outra oportunidade). Por isso a regra básica de colocação pronominal em Portugal é usar a ênclise, ou seja, colocar o pronome após o verbo. "Dá-me um cigarro", "Vi-o ontem" etc. Lá só se usa próclise (pronome antes do verbo) se houver fatores sintáticos que, na cadeia frasal, estabeleçam um espaço sonoro para o pronome. É o que ocorre em subordinações, por exemplo, dado que as conjunções que as introduzem também são átonas. Aproximam-se duas expressões átonas e pronto: conseguiremos ouvir mais ou menos as duas, antes que outra explosiva sílaba tônica espalhe perdigotos nos nossos óculos.
No Brasil não tem nada disso. Os sons das sílabas ocorrem com mais uniformidade, e após as sílabas tônicas é que ocorre uma queda sonora que apaga frequentemente os sons finais átonos das palavras. Por isso, entre outros fatores, a próclise é mais natural entre nós e, quando se usa a ênclise, é comum substituir-se o pronome átono pelo tônico, como em "Vi ele ontem".*
Aliás, não só a colocação como também o uso mesmo dos pronomes funciona diferentemente. Se eu virar para minha mulher e disser: "Amo-a", ela certamente perguntará, com as unhas cravadas na minha jugular, "Quem?!". Menos grave para minha integridade física, mas ainda um tanto constrangedor, seria dizer "Amo-te", como lá na terra de Saramago se diz. Mas o bom negro e o bom branco da nação brasileira dizem todos os dias: ah, vai, eu te amo.
Isso não ocorre somente na língua falada. Os textos brasileiros escritos cada vez mais adotam como naturais estruturas como "Me deparei com uma questão" ou, como li outro dia num livro do Roberto Schwarz**, "Nos preocupamos em mostrar ao leitor...". Isso não quer dizer que os autores ignorem a prescrição da norma-padrão. Apenas não a consideram relevante. Como, de fato, não o é.
Por outro lado, ocorre frequentemente o fenômeno da hipercorreção, em que alguns falantes acham que estão "falando mais bonito" ao usar a ênclise, e a usam mesmo quando há fator de próclise. É conhecida de todos aquela tenebrosa placa dos elevadores, que diz "Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se neste andar." Fora todos os outros problemas que ela tem, a frase ainda usa a ênclise numa oração subordinada, o que traria naturalmente o pronome para antes do verbo. Usa-se muito também a ênclise em formas de particípio, proibida pela norma-padrão. Outro caso é justamente a frase célebre a que o título do post faz referência. "Fi-lo porque qui-lo" ignora que a conjunção "porque" inicia uma subordinação e que, dessa forma, a norma-padrão aconselharia "Fi-lo porque o quis". Mas num país em que ênclise é sinal de erudição, o vulgo bate palma.
Então, para resumir a história: no Brasil, se usa a próclise, sempre. Mesmo em início de frase (apesar de a gramática condenar este uso). Mesmo na língua escrita. Mesmo em textos formais. Mesmo de escritores cultos. Isso configura uma diferença estrutural entre as línguas do Brasil e de Portugal, uma vez que a colocação dos pronomes tem implicações no som, na ordem, na regência, no léxico, na semântica e no uso.
Me fiz claro? Então tá. Até o fim do ano eu explico o caso dos objetos.
* Nesse caso, não cabe mais falar em "ênclise", pois o termo se refere somente ao uso dos pronomes átonos, ou clíticos.
** SCHWARZ, Roberto. Um mestre na periferia do capitalismo. Livraria Duas Cidades, Editora 34. Não lembro a página em que achei a frase. Mas aproveita e lê o livro todo, vai.
16 comentários:
O texto está muito bom! Eu tenho esse problema. Vivi no Brasil até aos 12 anos. Muitas vezes ainda troco o "se", "te", "me", etc. Por acaso na minha vida académica não tive problemas. Hoje em dia estou tirando um Mestrado na Faculdade de Letras de Lisboa.
Cumprimentos,
Duarte Loureiro
Adorei seu texto e ri muito no trecho sobre a moça que avança na sua jugular com as unhas por causa de um "amo-te". Vou assinar seu feed para me manter atualizada sobre novos posts. Um abraço!
Errado: Não fi-lo porque não qui-lo!
Certo: Não o fiz porque não o quiz!
A partícula negativa "não" é atrativa para pronomes!
Esse último comentário é uma brincadeira, né? Ah, entendi, é um "quiz"...
Si, probablemente lo sea
Nossa! Adorei o texto. Tirou bem minhas dúvidas de uma forma divertida e simples. E ainda tirou o peso da minha consciência, por eu sempre escrever o pronome no início de frase nos meus textos.
Parabéns!
Meu blog: acorda-amor.blogspot.com
Beeijos
Que texto tão engraçado...pena é misturar fenómenos de evolução linguística com os conhecidos complexos de superioridade do brasileiro...Já agora, diz-se, de facto "Não o fiz porque não quis" (a troca de s por z não invalida o comentário e não devia ter uma resposta tão desdenhosa, a meu ver, até porque a explicação está correcta apesar de não ter muito humor).
É que eu não resisti. Mas realmente não entendi o comentário do sujeito.
De fato, você sabe do que está falando. Que bom encontrar algo consistente na internet. Parabéns,Luis!
Obrigado, Sandra.
Espero ter tempo para voltar a atualizar essa conversa aqui.
Meu caro "professor", para valorizar a sua língua não precisa de menosprezar a minha...
Que afinal é a mesma!
Ninguém em Portugal diz:
Fi-lo porque qui-lo!!
Aqui na terrinha - não de saramago que vivia em espanha - a de Fernando Pessoa, que até viveu numa cidade, que eu tive o prazer de conhecer e onde fui sempre bem recebido, o Rio de Janeiro... Diz-se:
Fi-lo porque o quis (fazer).
Mas tudo bem, o Brasil, agora, até tem uma presidenta!!! Que foi adolescenta e estudanta, depois ascendeu a dirigenta e agora é presidenta...
Por mim está tudo dito!
Ou quase: Eu AMO o Brasil, sim, amo o seu país profundamente e o meu melhor amigo é brasileiro. Ele viveu 8 anos em Lisboa.
Foi também ele que me disse quando lhe mostrei esta página:
Opá o gajo (você) "acha-se".
Nós, os brasileiros, nem todos temos essa necessidade de rebaixar quem tanto nos deu. A maior parte de nós, os que estudámos, sabemos quais eram as nossas fronteiras em Tordesilhas (1492) e quais são agora. E sabemos bem a quem devemos (e o custo que teve para vocês - portugueses) nós sermos, hoje em dia, o 5º maior país do Mundo!!!
Ele (o meu bom amigo) sabe do que fala...
Disse ainda:
Ele (você o “professor”) não sabe do que fala:
"Me fiz claro" Não se diz!!!
Digo-lhe eu: Não se diz nem em Portugal, nem no Brasil, nem em Angola, nem em Moçambique (para si se calhar devia ser “nem no Moçambique” :-D), nem na Guiné-Bissau, nem em Cabo Verde, nem em São Tomé e Príncipe, nem em Timor.
Diz-se: FUI CLARO!!!
Então tá, fique bem caro amigo!
Fale (escreva) menos e estude mais.
Deixo-lhe uma última questão:
Se Bordéus (cidade anterior à vossa descoberta - "achamento")
é Bordô, qual a razão de Londres (cidade anterior ao “achamento”), não ser LONDÔN???
Pense nisso, se puder.
Fui claro?
Bem me quis parecer que sim :-)
Abraço de quem se orgulha imensamente do seu passado, ao contrário do senhor...
Caro Nicolay,
Críticas são sempre bem-vindas. Publiquei o comentário (por que não publicaria?), mas não a ordem, porque não estou aqui para acatar ordens de quem quer que seja.
Ao contrário do que você e seu amigo acharam, eu sei muito bem do que estou falando, e as diferenças entre o português brasileiro e o português europeu que sinalizo aqui estão muito bem estudadas por numerosos linguistas.
O que aparentemente você não entendeu, e que é o mote da postagem, foi a frase "Fi-lo porque qui-lo". Qualquer brasileiro (exceto seu amigo, talvez) conhece a referência: a frase é atribuída a Jânio Quadros, presidente brasileiro pré-regime militar, criticado por adotar um estilo excessivamente rebuscado nos discursos e nos escritos. A atribuição da frase a ele é talvez falsa, como tantas vezes são falsas as indicações de autoria desde muito antes da internet, mas a referência é conhecida de quase todos e simboliza o que eu condeno na postagem: a mania dos brasileiros de tentar falar difícil para impressionar. Veja que, ao contrário do que você parece ter entendido, eu não teço absolutamente nenhum comentário negativo sobre portugueses, mas, sim, sobre brasileiros. A estes, por serem meus conhecidos e por ter-lhes estudado a língua e os usos, critico à vontade. Quanto aos portugueses, o único que posso criticar é você, caro Nicolay, que não entendeu nada do que leu aqui, porque perdeu a referência inicial (e talvez porque seja mau leitor mesmo). Desses dois fatores parece derivar toda a enxurrada de impropérios e injustiças que você derramou sobre meu trabalho.
Repito: basta ler novamente a postagem para ver que não critico nenhum português nem a língua portuguesa falada na Europa, nem digo nada injusto contra brasileiros. A única injustiça cometida é, talvez, contra Jânio Quadros, que pode nunca ter falado a famigerada frase.
Outro ponto (sobre o qual aliás perdi a oportunidade de falar neste blogue) é a crítica que você faz ao termo “presidenta”. Compará-lo com “estudanta” ou “adolescenta” demonstra dois defeitos seus, os quais você compartilha com grande número de brasileiros, infelizmente: não saber bem sobre língua, e ser preconceituoso no que diz respeito a gênero. Mas eu fiquei com preguiça de desenvolver o ponto agora, então fique com essas duas ofensas sem maiores esclarecimentos.
Quanto à forma “Me fiz claro”: com base em que você afirma que não se diz isso no Brasil? Sua visita ao Rio de Janeiro? Seu amigo? Reconheço que é uma estrutura muito menos frequente que “fui claro”, mas um monte de gente diz e escreve assim, no Brasil (só posso falar do Brasil; quanto a Portugal e aos países lusófonos da África, deixo você falar, embora eu não vá acreditar em nada antes de pesquisar melhor).
Os comentários do seu amigo sobre Tordesilhas etc me parecem suscitar uma questão relevante para os historiadores: pouca gente no Brasil, entre os estudiosos, atribuiria o enfraquecimento de Portugal ao crescimento do Brasil. A relação indicada no seu comentário merece revisão.
E a última correção: seu comentário sobre eu talvez dizer “no Moçambique”, em vez de “em Moçambique”, revela outro desconhecimento de sua parte: os topônimos, no Brasil e em Portugal, comportam-se diferentemente quanto ao uso do artigo. É de rigor, em Portugal, dizer, por exemplo, que alguém está “em França”, enquanto aqui dizemos “na França”. O mesmo se verifica para diversos outros nomes de lugares. Como não há regra gramatical definindo o uso de artigo antes de nome próprio, trata-se aqui de uma questão de uso. Mesmo no Brasil se verifica variação quanto aos estados e cidades: dizemos “no Rio de Janeiro”, mas “em Recife”; “no Paraná”, mas “em Santa Catarina”; e, alternadamente, “em Goiás” e “no Goiás”, ao que alguns atribuem injustamente distinção pejorativa. Mas, não: aqui se usa “em Moçambique”, você errou no palpite também.
E essa despedida sua? Por que eu me orgulharia ou não do meu passado? Nada na minha postagem indica coisa alguma sobre tal assunto. Meu orgulho ou não sobre meu passado é outro assunto, não se mencionou ele na postagem, nem lhe interessa.
E por fim: não entendi nem me interessei pelo assunto sinalizado quanto a Londres ou Bordéus ou sei lá onde. Novamente os topônimos: cada nome próprio é transposto conforme o uso, não há regra fixa para isso. (longo bocejo)
É isto. Escrever menos e estudar mais é o que tenho feito nos últimos meses. Talvez seja hora de aproveitar para voltar a escrever.
Um forte abraço, você me ajudou muito.
Luis
Caro Luís,
sua resposta pronta, extensa, esclarecida e dedicada merece antes de mais um pedido de desculpas da minha parte.
Luís, as minha desculpas a si, pois não o queria ofender. Fui (ou quis ser) sarcástico, o que pode ser entendido como uma ofensa, mesmo quando não o é.
E tem razão, eu li esta página com atenção, mas não todo o seu blogue, que aproveito para o felicitar por ele.
Gosto de estudar, de aprender e com a sua resposta, aprendi já muitas coisas que não sabia, por exemplo, sobre Jânio Quadros, que conhecia de nome, mas desconhecia a frase: Fi-lo porque qui-lo.
O simples facto de ter respondido e o teor da sua resposta merece, antes de mais, uma constatação da minha parte, a amizade autêntica entre Brasil e Portugal. Entre portugueses e brasileiros. E também o respeito mútuo.
É assim que deve ser. E deveria, sempre, ser.
Não pretendi dar nenhuma "ordem". Só "espicaçar" e apenas com o intuito de o levar a publicar. Vejo que procedi mal, pois o senhor mostrou ser uma pessoa de coragem, ainda que eu discorde de algumas coisas que disse. Prometo que vou seguir o seu blogue com maior atenção e tentarei ser "melhor leitor". Tenho muito a aprender, tenho 33 anos e a minha área de formação é outra (Gestão de Empresas), não obstante, sou muito interessado por história, economia, (história económica também) e geopolítica. E claro, a "nossa" língua portuguesa.
Não tive a intenção de lhe dirigir impropérios, nem injustiças, mas compreendo que tenha sido essa a sua interpretação. E assumo, fui trocista, fui gozão. Quem semeia ventos colhe tempestades.
Semeei o meu gracejo, colhi a sua preeminência.
Fica o esclarecimento.
Quanto à sua observação sobre os meus dois defeitos (desde já lhe digo que tenho muito mais que apenas 2!!) não aceito nenhum dos que me acusou ter. Não se trata de preconceito quanto ao género, pois existem palavras sem género definido e isso, desculpe que lhe diga, deveria saber.
Quem estuda é estudante, quem dirige é dirigente e quem preside, é presidente. INDEPENDENTEMENTE do género. Era isto que queria dizer. No Brasil também se diz estudanta? ou dirigenta? Que eu saiba não. Portanto, usar a palavra "presidenta" é um erro gramatical e não uma questão de preconceito.
Se quer saber a minha opinião pessoal, isso apenas demonstra um complexo que não faz sentido nos nossos tempos. Mulheres e homens são para mim exactamente iguais, em direitos e apenas diferentes em suas características físicas, mas isso é outra conversa.
(exemplos de diferenças: O Criador apenas deu à mulher a bem-aventurança de conseguir gravidar, dar à luz e amamentar, o homem não tem essa felicidade)
Pedia-lhe portanto o favor de não me direccionar tal crítica, que também foi a meu ver, imprópria e extremamente injusta.
(continua)
(continuação)
Quanto a "me fiz claro" e com que base você afirma (em vez de "com base em que você afirma que", ou quanto muito, "com base em quê você afirma que") neste caso eu, que não se diz, foi sem base, não é necessária. Basta ter pesquisado e/ou estudado um pouco. Basta saber. E se muitas pessoas o dizem, acredito que não só no Brasil, não deixa de ser um erro, crasso!
Pode acreditar, mas não quero que o faça, sem antes fazer as suas pesquisas, claro.
Também não fui interpretado pretendia, em relação a "Tordesilhas" e às actuais fronteiras do Brasil.
O crescimento do Brasil (económico e social) nada tem a ver com o declínio (económico) de Portugal.
Portugal era (até) há bem pouco tempo uma das economias (apenas "economias" sublinho) mais estáveis
do mundo. Com uma moeda forte, uma industria em crescimento, com a 4a reserva de ouro, a nível mundial.
Tendo em conta a nossa reduzida dimensão (cerca de 92.000km2 ou seja menos de 1/5 da Espanha ou França e 1/92!!! do Brasil...) isso é por si só, um feito admirável, infelizmente destruído por políticos cobiçosos, desonestos, gananciosos e sem escrúpulos. Que usaram a Pátria única e exclusivamente para seu engrandecimento e enriquecimento, pessoal...
Outra longa conversa. Que é melhor ficar para "outro dia".
O que eu quis dizer foi que, nesse tempo, Portugal sacrificou outros territórios, no Oriente e até mesmo em Portugal Continental, para garantir que o Brasil seja hoje o maior país da América do Sul e maior que todos os outros (países da América do Sul) JUNTOS!!
Quanto à nossa presença e Diáspora pelo Mundo, fomos diferentes de outras potências europeias, não porque sejamos ou tenhamos sido melhores que outros, mas porque a necessidade (e humanidade) assim o ditou. (recomendo uma “pesquisa” e só para dar um exemplo, sobre a vida e obra do Padre António Vieira)
Com a nossa diminuta dimensão, com muito menos recursos que outros e com uma população de apenas 1 milhão de habitantes no Séc.XVI fizemos "mais", muito mais, que esses outros. Especialmente se o considerarmos em termos relativos.
Ao contrário de espanhóis, franceses ou ingleses, a nossa "política" tendeu sempre para a aculturação, mescla e integração.
Se tiver tempo veja este link, o texto não é meu!
http://comunidade.sol.pt/blogs/dimacas/archive/2008/06/10/Dia-da-Ra_E700_a_3F00_.aspx
Em relação à sua última correcção, estou agradecido e esclarecido.
Na verdade, quando estrangeiros que aprendem português aqui, me perguntam quando se deve usar "no", "na" ou "em", nunca sei responder sem ser com a sua explicação (a do Luís): não existe regra gramatical definida, é uma questão de uso.
A despedida, (acerca do orgulho, ou não, no passado) foi a impressão com que fiquei.
Não me resta outra opção senão repetir outro pedido de desculpa, pois não queria ser interpretado assim. Mas tenho "culpas no cartório", o sarcasmo e ironia, são muitas vezes vistos como ofensa, mesmo quando a intenção é apenas a de "entrar" no interior dos outros.
Tem razão, não o conheço de parte nenhuma e não o deveria ter feito.
(continua II)
Caro Nico,
Estão de pronto aceitas as desculpas. Como eu disse antes, você me deixou com vontade de voltar a escrever aqui, o que cuidarei de fazer ainda nesta semana, e isto é mérito seu.
Não publiquei o seu último comentário para preservar-lhe a privacidade do email, mas quis publicar os outros, creio serem úteis e interessantes para quem passar por aqui.
Talvez retome a linha do blogue justamente com o assunto do Presidenta, que acho interessantíssimo.
Quanto a "me fiz claro" ser erro crasso, volto ao ponto central das postagens que fiz comparando as modalidades portuguesa e brasileira da nossa língua: a próclise em início de frase é corrente no Brasil, mesmo em níveis mais formais. Insistir em tachá-la de errada é perpetuar a ideia da suposta (e ilusória) correspondência entre os usos em Portugal e no Brasil.
Não estão errados brasileiros quando dizem "me saí bem na prova", por exemplo, da mesma forma que não estão errados portugueses ao chamar "fila" de "bicha", coisa que aqui jamais soaria normalmente.
Mas, se disso você discordar, saiba que há inúmeros estudiosos no Brasil a lhe sustentarem a opinião, e talvez por isso esta minha postagem tenha levantado o maior número de divergências da história do blogue. Normal. Mas sustento o meu argumento: dizer que brasileiros falam errado e que portugueses falam certo configura preconceito e só gera inimizade entre os dois povos.
Quanto ao assunto do meu orgulho do passado ou meu amor a Portugal, que você retomou no comentário que não publiquei, dou-lhe já a resposta: não conheço ainda Portugal (somente o saguão do aeroporto de Lisboa, rs), mas amo-lhe a história e a literatura, tanto de Saramago quanto de Pessoa. E, por direito decorrente de laços sanguíneos diretos, nos próximos meses devo receber finalmente meu passaporte português, o que me tornará tão cidadão ibérico quanto qualquer outro, após o que seguramente irei a Portugal para comemorar. Quem sabe não nos encontramos então?
Um abraço de amigo.
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